Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS): reflexões da Conferência Internacional do Programa Eco-Escolas em Kuala Lumpur, Malásia
Por Aline Tiagor – Coordenadora Nacional do Programa Eco-Escolas Brasil
Durante a conferência internacional do Programa Eco-Escolas da Foundation For Environmental Education (FEE), realizada em Kuala Lumpur, 89 profissionais de 42 países estiveram reunidos para trocar experiências, compartilhar boas práticas e fortalecer o entendimento global sobre os caminhos da Educação Verde (EV), da Educação Ambiental (EA) e da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS).
A metodologia dos 7 Passos Eco-Escolas, alinhada e integrante do Greening Education Partnership (GEP) da UNESCO, reafirma a importância de diretrizes globais baseadas em estudos internacionais, mas adaptáveis à realidade de cada país e escola. Durante o evento, diversas ideias e conceitos chamaram minha atenção, especialmente aqueles que dialogam com os desafios da implementação da EDS no Brasil.
Entre os questionamentos que me acompanharam ao longo dos debates, destaco o que considero prioridade para avançarmos no país: Como criar sinergia entre metodologias globais e os desafios brasileiros? Como integrar o trabalho das escolas às necessidades de transformações comunitárias? Como garantir suporte aos educadores e espaços de protagonismo para crianças e jovens?
Não seria possível nomear cada pessoa que nos presenteou com seus conhecimentos e pesquisas, mas deixo o agradecimento a todos pelos produtivos debates. A seguir, compartilho algumas das reflexões mais marcantes apresentadas durante o encontro.






Footprint & Handprint: informação sobre nossa “pegada ecológica” e estímulo para agir com a “mão na massa” pela sustentabilidade
Na Educação Ambiental, o conceito de pegada ecológica (footprint) nos ajuda a compreender o impacto de nossas escolhas no meio ambiente, as mudanças climáticas como resultados e a importância da análise de temas socioambientais como o consumo de energia, alimentação, geração de resíduos, emissão de GEE, entre outros.
Mas o conceito de “mão na massa” (handprint), amplamente discutido na conferência, aprofunda esse olhar ao inspirar a ação: mais do que informar sobre as causas e consequências da degradação ambiental, é preciso estimular estudantes a transformar conhecimento em atitudes.
Essa é a abordagem que as metodologias de Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS), como os 7-Passos Eco-Escolas, convidam os estudantes a colocarem literalmente a “mão na massa” — identificando problemas locais, propondo soluções e liderando projetos sustentáveis em suas comunidades. A essência da Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP): formar cidadãos capazes de agir localmente com um pensamento global.
Mindset to Heartset: os comportamentos que resultaram na crise climática do planeta, não são os mesmos que irão nos tirar dela
Entre as ideias mais inspiradoras apresentadas em Kuala Lumpur está o conceito de “Mindset to Heartset” — a transição do pensamento racional e puramente científico para uma abordagem mais humana e empática na educação.
Como ressaltou Pramod Kumar Sharma, Diretor Sênior de Educação da Foundation for Environmental Education (FEE), “tornar a educação mais verde vai além de plantar árvores nos pátios das escolas — trata-se de formar uma geração que compreende, valoriza e protege o meio ambiente. O verdadeiro propósito é mais profundo: ajudar os estudantes a compreenderem por que suas escolhas e ações são importantes, estimular o pensamento crítico sobre sustentabilidade e garantir que esses valores ultrapassem os muros da escola, sendo levados para a vida e as comunidades onde vivem.”
De fato, não há tecnologia que substitua a escassez de água potável, nem saúde mental possível em sociedades desiguais. É urgente que nossas escolas sejam ambientes seguros e férteis para a transformação, espaços onde as crianças possam agir e sonhar com o planeta que desejam construir.
O professor Charles Hopkins, Cátedra da UNESCO em Reorientação da Educação para a Sustentabilidade na Universidade de York (Canadá), reforçou que “as ciências, a tecnologia, a engenharia, a matemática e a linguagem são ferramentas fundamentais nas escolas, mas o que realmente importa é como usamos essas ferramentas, o que fazemos com elas para construir o mundo que queremos.”
O Programa Eco-Escolas faz parte dessa rede global de metodologias que apoiam as escolas a se tornarem exemplos vivos de sustentabilidade, incorporando esses princípios aos seus currículos e práticas cotidianas.
Greening Teacher Capacity: fortalecer quem ensina para transformar quem aprende
Um dos temas centrais da conferência foi o fortalecimento do desenvolvimento dos educadores em aplicar a sustentabilidade de forma prática, transversal e interdisciplinar. Tema abordado de forma ampla e sistêmica por Katerina Ananidou, especialista em EDS na UNESCO, atuando na coordenação de iniciativas globais voltadas à formação de educadores e à integração da sustentabilidade nos sistemas educacionais.
Na metodologia 7-Passos Eco-Escolas, temos o passo da “integração curricular”. A proposta é reconhecer que cada ação socioambiental que os estudantes realizam, pode ser integrada às diversas disciplinas. Ensinar estatística e frações utilizando as quantidades de resíduos enviados para a cooperativa de reciclagem parceira da escola e calcular a quantidade de composto orgânico produzido pelos restos de alimentos da cozinha, são alguns dos exemplos de matemática na sustentabilidade. Planos de aula que integrem os saberes de comunidades tradicionais e o envolvimento das famílias em técnicas de plantio de ervas medicinais, são outro exemplo de como conectar a sala de aula com a comunidade escolar e a sustentabilidade com a educação.
No Brasil, sabemos que os educadores enfrentam grandes desafios — falta de recursos humanos, infraestrutura e apoio financeiro são obstáculos reais. Por isso, o Eco-Escolas Brasil aposta na valorização e na formação contínua dos educadores, com máxima atenção para a sobrecarga desses profissionais, nos posicionando como suporte e apoio para facilitar suas pesquisas nos temas de sustentabilidade. Nossa atuação oferece metodologias, materiais de apoio e planos de aula por faixa etária que integram a sustentabilidade a diferentes disciplinas.
Ao entender que os educadores são a base dessa estrutura, a escola deve atuar como um sistema central da comunidade. Sendo o modelo do que deseja ensinar, aproximando teoria e prática e promovendo espaços de protagonismo estudantil junto à comunidade. Cuidar e ter mais áreas verdes, facilitar o uso dessas áreas pelos educadores, reduzir seu consumo e utilizar fontes renováveis de energia e água, reduzir resíduos e desperdício de alimentos, integrando iniciativas locais na Abordagem de Toda a Escola (Whole School Approach – WSA), são algumas das ações transformadoras que inspiram estudantes e educadores a cuidarem de sua escola e se unirem pelo futuro da comunidade que pertencem.
Um compromisso compartilhado com o futuro
A Educação para o Desenvolvimento Sustentável não se resume a ensinar informações sobre o meio ambiente ou sobre o futuro que desejamos — é sobre construir hoje o mundo que queremos.
Para 2026, nosso principal objetivo é captar recursos para viabilizar jornadas de aprofundamento técnico com oficinas práticas de curta duração. Queremos oferecer experiências de aprendizagem e inspiração que fortaleçam educadores em seu papel de líderes da transformação rumo à sustentabilidade em suas escolas. A proposta é alcançar docentes das redes públicas com formações de baixo investimento de tempo e alto impacto no desenvolvimento de competências para a Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS).
No Programa Eco-Escolas Brasil, nossa missão é apoiar e reconhecer escolas e educadores que assumem esse compromisso, oferecendo ferramentas, formação e inspiração para que a sustentabilidade seja vivida no cotidiano escolar.
Se você é educador/a, diretor/a de escola, membro de Secretarias de Educação ou Meio Ambiente ou tem interesse em patrocinar e apoiar o Programa Eco-Escolas no Brasil, entre em contato conosco! Porque educar para o desenvolvimento sustentável é educar para a vida e estamos todos juntos por um mundo mais saudável e justo para nossas crianças e jovens!